O final da semana passada foi marcado por desentendimentos entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e dois outros atores: o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM/RJ), e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Guedes criticou Maia por ter se “aliado a esquerda para barrar as privatizações” e, após ter sido criticado por Marinho, insinuou que este seria “desleal, despreparado e fura-teto”.
As duas desavenças ocorrem em contextos diferentes. No caso de Rodrigo Maia, que apoia, em grande parte, a agenda liberal do governo, há uma disputa por protagonismo em temas econômicos, especialmente a Reforma Tributária.
É importante ressaltar que Maia se opõe à proposta de criação de um imposto sobre transações financeiras, por exemplo. No entanto, os senadores Renan Calheiros (MDB/AL) e Kátia Abreu (PP/TO), assim como o ministro do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, se mobilizaram para reconciliar os dois, organizando um jantar que deve ocorrer nesta segunda-feira (5).
Por outro lado, a disputa entre Guedes e Marinho reflete duas visões de política econômica no governo: uma “fiscalista”, enfatizando a necessidade de ajuste nos gastos públicos; e uma “desenvolvimentista”, propondo o aumento de investimentos em infraestrutura e programas sociais. Segundo fontes, o presidente Jair Bolsonaro deve convocar uma reunião nesta terça-feira (6) para discutir a troca de farpas pública entre os ministros.
Embora, em um primeiro momento, Bolsonaro não deva favorecer nenhuma das duas agendas (dado que ambos os ministros teriam agido de forma imprópria), os eventos devem dar continuidade ao processo de “silenciamento” de Paulo Guedes, que tem cedido seu espaço à articulação política (por sua vez, mais próxima dos desenvolvimentistas).
Apesar de representar um enfraquecimento do ministro, a tentativa de reconciliação com Maia também demonstra o apoio à agenda liberal em setores do Congresso. Assim, mesmo depois de apaziguar os ânimos, o governo terá que escolher qual das duas agendas será sua prioridade, pressionado tanto pelo Congresso como pelo mercado – que passa a avaliar como cada vez mais provável a possibilidade de descumprimento do teto de gastos.
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