BLOG BMJ

Da lavoura à política: a ascensão da gestão feminina no agronegócio

06/03/2022 08:00:00 / por BMJ Consultores

Por Karina C. T. Tiezzi e Natália Sieiro Oliveira

O dia 5 de agosto de 1888 foi marcado por um feito histórico que revolucionou o mundo. Bertha Benz se tornou a primeira pessoa a dirigir um automóvel a uma longa distância. Ela dirigiu de Mannheim até Pforzheim (Alemanha). Os 106 quilômetros do percurso, hoje conhecido como a Rota Turística "Bertha Benz Route", foram percorridos, pasmem, por uma mulher sem a autorização de seu marido para tanto. Somente 30 anos depois, em 1918, seria concedido às alemãs, dentre elas Bertha, o direito ao voto.

No Brasil, o voto feminino passou a ser previsto no Código Eleitoral Brasileiro em 24 de fevereiro de 1932, recebendo status de direito constitucional apenas em 1934. Apesar de tardio, vale mencionar que o Brasil ainda antecedeu algumas outras potências hoje consideradas mais progressistas, como a França, que só aprovou o voto feminino em 1944, e a Suíça, onde o direito passou a ser válido a partir de 1971. A própria Grécia, que adotou princípios democráticos 600 anos A.C., só adotou o voto feminino em 1952.

Se há quase 90 anos as mulheres não podiam participar da vida política do Brasil, o cenário vem mudando nos últimos anos. O avanço de pautas femininas e feministas no país, apesar de lento, propiciaram uma realidade em que mulheres passam a ocupar cada vez mais cargos de lideranças, especialmente em ambientes majoritariamente – e, por vezes, exclusivamente –masculinos.

No Congresso Nacional, os banheiros femininos para uso das senadoras no Plenário só foram instalados em dezembro de 2015. Até essa data, as parlamentares precisavam se ausentar do Plenário e utilizar o toalete do restaurante anexo, disponível desde 1979, quando foi eleita a primeira senadora, Eunice Michiles.

Na Câmara dos Deputados, eram 51 deputadas (10% do total dos 513 parlamentares) no período de 2013-2018. Na 56ª legislatura (2019-2023), o número subiu para 77 deputadas (15% do total), sendo uma das cadeiras ocupada pela primeira deputada indígena, Joênia Wapichana.

Pode-se afirmar que 2021 foi um ano de conquistas femininas. Isso porque apesar do pequeno aumento de 5% da bancada feminina na Câmara, mais cargos de lideranças foram ocupados por mulheres. Três das quatro Secretarias que compõem a Mesa Diretora são ocupadas por mulheres: são elas as deputadas Marília Arraes, Rose Modesto e Rosângela Gomes. As presidências das comissões também ganham destaque, com a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania presidida pela deputada Bia Kicis; a Comissão de Meio Ambiente, sob o comando de Carla Zambelli; e a Comissão de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, liderada pela deputada Aline Sleutjes.

Sleutjes, que também faz parte da Diretoria da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), vem de uma linhagem de pecuaristas do Sul, e é extremamente atuante na pauta do agronegócio. Voz do Agro, participou de comitivas com a Ministra Tereza Cristina para apoiar as negociações de novos mercados. Apesar de cumprir primeiro mandato, a deputada tem ganhado muito destaque em sua atuação legislativa.

O agronegócio é um exemplo de setor tradicionalmente marcado por representações e lideranças majoritariamente masculinas. Há menos de uma década, Kátia Abreu, hoje Senadora da República, foi a primeira Ministra da Agricultura da história do Brasil. Assim, foram necessários 119 antecessores até que a pasta fosse confiada a uma mulher. Kátia ocupou o posto entre 2015 e 2016, durante o segundo mandato da primeira Presidente mulher do país, Dilma Rousseff. Quando Temer assumiu a Presidência da República, Abreu foi substituída por Blairo Maggi, figura conhecida no agronegócio e na política nacional.

Em 2018, a deputada Tereza Cristina assumiu a presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária, uma das maiores e mais institucionalizadas frentes do país, assim como um dos maiores instrumentos de negociação de interesses do setor agrícolas no âmbito do legislativo. Tereza desempenhou um trabalho ímpar à frente da organização, a ponto de o setor ter feito sua indicação como ministra da Agricultura no mandato do presidente Jair Bolsonaro.

Cristina está desde o primeiro dia do atual governo à frente da pasta. Com avanços notórios ao setor, Tereza trabalhou pela abertura de novos mercados para produtos agrícolas brasileiros, foi peça-chave para temas como a criação dos Fundos de Investimentos do Agronegócio, otimização do crédito rural, maiores investimentos nos Planos Safra lançados nos últimos anos, estruturação do Plano ABC+, além de ações em prol da agricultura sustentável e na melhora da imagem do agronegócio internacionalmente. Não caberia em um artigo as qualidades e os avanços conquistadas para o setor agrícola a partir da atuação da deputada licenciada. Tereza Cristina, que também é esposa, mãe e avó; fez inúmeras viagens a trabalho nos últimos três anos e foi um exemplo, de outros que serão citados, da competência, organização e brilhantismo feminino frente a papeis de liderança e gestão.

Em 2020 outra Teresa Cristina também passou a fazer história. Teresa Cristina Vendramini foi a primeira mulher eleita presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) em 100 anos de história. Produtora rural, Teka, como é apelidada, também foi a primeira mulher a presidir a Federação das Associações Rurais do MERCOSUL (FARM), uma vez que a presidência pro tempore era da SRB. Teka tem como prioridade de atuação questões de defesa sanitária, tais como a erradicação da febre aftosa e o combate à peste suína africana.

Em 2022 novas eleições ocorrerão, e a ministra Tereza Cristina, caso concorra a alguma posição eletiva, deverá deixar o cargo até abril de 2022, em cumprimento às normas eleitorais. Ela, inquestionavelmente, deixa um belo legado de sua gestão no Mapa, que, mais do que ações pelo setor, traz inspiração, mostrando com excelência que mulheres não são apenas capazes de falar sobre agro mas, principalmente, são capazes de falar e trabalhar pelo agro.

Que cada vez tenhamos mais Terezas e Teresas, Alines, Sorayas, Simones e Kátias. Que cada vez mais e mais mulheres representem o agronegócio brasileiro e participem ativamente no processo decisório. Que a política cada vez mais seja para todas e todos e que essas páginas, um dia, percam a sua contemporaneidade.

 

*Karina Tiezzi é coordenadora do Núcleo de Agronegócios da BMJ.

*Natália Sieiro Oliveira é consultora do Núcleo de Agronegócios da BMJ.

 

Tópicos: Relações Governamentais, Agronegócio, Sustentabilidade, Mulheres na Política, Dia da Mulher

BMJ Consultores

Escrito por BMJ Consultores

Assine nosso Newsletter

Posts Recentes