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A mega explosão no porto de Beirute e os impactos para as relações comerciais com o Brasil

08/08/2020 08:00:00 / por BMJ Consultores

Por Josemar Franco e Mônica Rodriguez

A explosão no porto de Beirute, no Líbano, ocorrida no dia 4 de agosto, deixou a cidade arrasada, uma verdadeira catástrofe para um país que enfrenta uma das suas piores crises econômicas e políticas. A possibilidade de um ato terrorista deixou o mundo apreensivo com um possível aumento de tensão naquela região. 

Contudo, Benjamin Netanyahu, o primeiro ministro de Israel, se apressou em declarar que o país nada tinha a ver com a explosão. Da mesma forma agiu o Hezbollah, informando que a organização não era responsável pela tragédia.

As informações oficiais ainda não são conclusivas, mas o que se sabe até o momento é que um armazém com nitrato de amônio acondicionado de forma inadequada teria sido a razão da explosão, que de tão violenta pôde ser sentida na ilha de Chipre, situada a mais de 200km da capital libanesa. 

De acordo com a rede de notícias Al Jazeera, o nitrato de amônio estava no porto de Beirute desde 2013 quando chegou em um navio de uma empresa russa com bandeira da Moldávia, que faria o percurso Georgia para Moçambique, na África. A embarcação apresentou problemas técnicos no mar e foi obrigada a atracar em Beirute. Como as autoridades libanesas não souberam como lidar com o caso, a tripulação simplesmente abandonou no porto, o navio e o carregamento. 

Ademais, há indícios de que diversas cartas foram enviadas pelos funcionários da aduana para as autoridades libanesas alertando sobre o perigo que havia no porto. Nada foi feito e o resultado foi apocalíptico. 

Não seria a primeira vez que o Líbano enfrentaria a difícil tarefa de se reerguer. O país já havia sofrido bastante com a guerra civil que começou em 1975 e só terminou em 1990. Para combater a crise pós guerra civil, o governo precisava atrair investimento ao país e as remessas da diáspora libanesa tiveram um papel importantíssimo para a economia. Esse fluxo contínuo perdurou por quase vinte anos mesmo com a guerra entre Israel e o Hezbollah em 2006. 

Entretanto, a corrupção da classe política e sua visível incompetência levaram o Líbano para o agravamento da crise e o mês de outubro de 2019 ficou marcado por intensos protestos. Os manifestantes reivindicavam ações do governo para o estabelecimento de políticas econômicas eficazes, atreladas a medidas anticorrupção. 

Além disso, a pobreza, a violência, um sistema de saúde cada vez mais precário e desemprego em níveis altíssimos foi o que levou milhares de pessoas às ruas da capital Beirute. Somado a esse cenário turbulento, ainda há a pandemia do novo coronavírus que também atingiu o Líbano. Definitivamente, a explosão não poderia ter acontecido em pior momento.

Lamentavelmente, Beirute foi devastada pela tragédia no porto impelindo o país a escolher como direcionará seus esforços para a reconstrução da cidade e por essa razão, talvez o acordo econômico entre o Líbano e o MERCOSUL, que já vinha sendo negociado de forma mais efetiva no ano passado,demore mais do que estava previsto.

Nesse sentido, o Líbano e o MERCOSUL iniciaram uma aproximação em 2014, ocasião em que foram definidos os prazos para a troca de informações relevantes sobre um possível acordo comercial. As negociações começaram por interesse do Líbano em expandir seu comércio preferencial e, com a ascensão de Michel Temer a presidência, a pauta voltou a tomar força, especialmente por seu contexto político, considerando a ascendência libanesa do então Presidente da República. 

Após a finalização das etapas iniciais dessa aproximação comercial, entre 14 e 18 de outubro de 2019, em Beirute, ocorreu a primeira rodada de negociações entre MERCOSUL e Líbano, a fim de efetivamente avançar para o livre comércio. Apesar de terem realizado apenas uma rodada de negociações, existia a expectativa de que essa negociação fosse concluída rapidamente. No entanto, as negociações foram suspensas devido às instabilidades políticas que se iniciaram no Líbano no final de 2019. 

Além disso, o avanço da pandemia do coronavírus e a decisão Argentina de não participar de algumas negociações do MERCOSUL trouxeram mais incertezas para essa negociação durante o primeiro semestre de 2020. Dessa forma, a explosão no porto de Beirute apresenta novos desafios para o governo libanês, impactando nas tratativas comerciais entre as duas partes. 

O comércio entre os dois países se caracteriza por exportações brasileiras em volume significativo para o Líbano. O Brasil exportou US$ 240,5 milhões para esse país em 2019. Já as importações brasileiras de origem libanesa alcançaram US$ 9,7 milhões. Ou seja, o Brasil já possui um saldo superavitário no comércio bilateral com o Líbano. Por conseguinte, esse acordo apresenta uma oportunidade para o Brasil aumentar as suas exportações para o Líbano.

Ainda que não seja parte integrante da Organização Mundial do Comércio (OMC), o Líbano tem adotado reformas estruturais para implementar uma abertura comercial no país, firmando acordos comerciais com os Estados Unidos, a União Europeia, a EFTA e participando da área de livre comércio árabe. Como consequência, a negociação de um acordo de livre comércio com o Líbano faz parte de um primeiro movimento do MERCOSUL para buscar relações comerciais mais próximas com o Oriente Médio.

Tópicos: Comércio Internacional, MERCOSUL, Líbano

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