Não obstante o vírus ter chegado à humanidade por meio de um ser que voa, o morcego, a pandemia do coronavírus irá afetar drasticamente várias pessoas que ganham a vida voando. Ontem, Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, comunicou que suspenderá a entrada no país de passageiros vindos da Europa em virtude da pandemia de coronavírus. Esta é uma atitude com muitos reflexos negativos para a aviação comercial mundial.
Os voos de passageiros com origem na Europa e destinado aos Estados Unidos correspondem a 39% do movimento aéreo internacional. Acredita-se que este número represente apenas o indicador dos voos regulares, sem contar os voos charter.
O setor de transporte aéreo internacional de passageiros já estava enfrentando uma crise bastante severa. Nos últimos vinte anos, várias companhias aéreas de baixo custo estão dificultando a vida das companhias aéreas tradicionais, grandes fusões de companhias. Por exemplo, o grupo Air France/KLM foi estabelecido para viabilizar a existência destas companhias. Os custos por evento (voo) têm se elevado nos últimos anos e a ocupação dos aviões está diminuindo.
Confirmando isto temos a substituição dos aviões quadrimotores de grande capacidade de passageiros, tais como o Boeing 747 e o Airbus A-380, que deixaram de ser fabricados; por aviões bimotores mais modernos (A-350, B-787 e B-777) e que são mais baratos de operar.
Há empresas que estão prestes a fechar as portas. O caso mais grave, e que é a companhia mais atingida pelo surto do coronavírus, é o da Alitália. A empresa de transporte italiana vem tentando se recuperar de uma grave crise financeira há dez anos.
Com o isolamento da Itália, e a suspensão de várias linhas destinadas àquele país, a falência da empresa parece inevitável. Na semana passada, a Alitália já estacionou três aeronaves de longo curso e pretende devolvê-las ao arrendador.
As empresas low-cost são as mais prejudicadas, pois dependem de encher seus aviões para amortizar os custos dos voos. Sem passageiros tendem a paralisar. Uma destas empresas, a britânica chamada Fly-Bee, faliu na semana passada.
As encomendas de novas aeronaves estão diminuindo, e este é outro reflexo adverso da crise de saúde. A Boeing, que já enfrentava uma dificuldade em virtude da paralisação dos voos do Boeing 737-Max, agora enfrenta estagnação de suas outras linhas. O país com maior encomendas de aeronaves é a China, e dada a situação, deve reduzir a aquisição de novas aeronaves de longo curso.
Resta para as empresas de transporte aéreo o incremento dos voos intracontinentais e regionais. Neste aspecto, só levam vantagem as empresas americanas, sul-americanas e asiáticas, por conta da extensão e variedade de itinerários possíveis. Na Europa, apenas as mais fortes sobreviveriam por conta da concorrência elevada. Neste cenário ganham espaço os aviões produzidos pela EMBRAER (E-Jets e E2-Jets), Airbus (A319 e A220) e ATR (Série 42), mais adequados aos trajetos curtos. Nesta crise toda um país parece permanecer incólume: a Rússia, onde predominam os voos internos e o número de companhias aéreas cresceu nos últimos dez anos.
Ao que parece o COVID-19 não adoece apenas as pessoas mas os aviões também.