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Comunicação nos 100 dias do governo Bolsonaro

16/04/2019 11:57:36 / por Andressa Canela

Bolsonaro completou na última semana 100 dias de governo. Nas 35 metas nacionais prioritárias para o início da gestão, a única política pública que trata especificamente da área de comunicação é a reestruturação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A reformulação da estatal, responsável por gerir as emissoras de rádio e televisão públicas, tem como argumento a necessidade de racionalizar a estrutura da empresa e valorizar a qualidade do conteúdo.

Diante do marco de um pouco mais de três meses de governo, é oportuno analisar a estratégia desenhada para a comunicação que privilegiou, principalmente, as redes sociais. A escolha do Twitter como plataforma de contato com a nação ocorre desde a campanha eleitoral. Seguido por 3,94 milhões no Twitter e 10,7 milhões no Facebook, Bolsonaro utiliza suas contas oficiais para fazer declarações públicas, definir pautas prioritárias, divulgar agendas, anunciar nomeações e defender posicionamentos.

É perceptível a existência de um encorajamento para que os ministros e principais assessores usem as ferramentas digitais. O mais recente usuário do Twitter é o ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, que criou sua página em abril. Moro, que já é o ministro com o maior número de seguidores (625 mil), afirmou que esse instrumento será poderoso para divulgar os projetos e as propostas do Ministério. Depois dele, os ministros mais seguidos são Onyx Lorenzoni (308 mil), Ernesto Araújo (273 mil) e Damares Alves (256 mil). Ao todo, 12 ministros têm um perfil na rede social. O sucesso da tendência se confirmou com a eleição de neófitos no Congresso Nacional, como os deputados Kim Kataguiri (DEM/SP) e Joice Hasselmann (PSL/SP), e o senador Jorge Kajuru (PSB/GO), que se tornaram conhecidos graças às mídias sociais.

A preferência pela mídia digital é justificada pela oportunidade de confrontar fake news e interpretações distorcidas. A desconfiança nos veículos tradicionais reflete-se claramente no embate do presidente com jornalistas. Em um áudio vazado por Gustavo Bebianno, Bolsonaro afirma que a TV Globo é uma inimiga e pede ao ex-ministro que não atenda a imprensa.

A mudança de canal de comunicação transformou também o modo como a mídia tem se relacionado com o governo. O contato com assessores de imprensa se transformou no acompanhamento de publicações na internet e, consequentemente, houve um distanciamento entre a mídia e a exclusividade e proximidade de informações oficiais.

Não raro, Bolsonaro também ataca os gastos com publicidade e patrocínio de órgãos do governo. Em um tweet no dia 21 de dezembro de 2018, o presidente destaca “O Congresso aprovou orçamento de R$ 150 milhões para a Secretaria de Comunicação Social em 2019, um corte de 45,8% do valor proposto pelo atual governo (R$ 277mi). Informo que nosso governo não irá pleitear qualquer aumento no orçamento e trabalhará com o valor aprovado. Revisaremos diversos contratos e reavaliaremos o quadro pessoal da Secretaria de Comunicação (SECOM) a fim de reduzir ainda mais o orçamento para 2020. Vamos mostrar, nesta e em outras áreas, na prática, os benefícios da correta aplicação de recursos públicos”.

No dia 5/4, foi confirmado para assumir a SECOM o publicitário e empresário do setor de pesquisa de mídia, Fábio Wajngarten. A escolha foi apoiada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que defende não ser possível aprovar mudanças na Reforma da Previdência sem uma massiva comunicação com a população. Tal sinalização reverbera no Parlamento e em núcleos próximos ao presidente.

Bolsonaro assume que a comunicação do seu governo precisa ser melhorada. Seu tweet com maior repercussão foi o polêmico vídeo sobre o golden shower, apagado no mês passado. Em março, o jornal The Economist avaliou que as postagens explosivas do presidente atrasaram a Reforma da Previdência e a luta contra o crime e a corrupção.

A BMJ mapeou todos os tweets publicados na conta de Bolsonaro de janeiro a 2 de abril deste ano e apurou que desde o início do mandato, ele realizou cerca de 723 tweets e que 1/3 das publicações foram retweets de outras páginas. Segundo o levantamento, o presidente teve ainda um aumento de aproximadamente 44% no número de seguidores. As informações foram coletadas no material “100 dias do Governo Bolsonaro”, escrito por especialistas da BMJ.

É indiscutível que o veículo de comunicação escolhido pelo Planalto é barato e popular. Contudo, o desafio se apresenta juntamente à tecnologia e essa acessibilidade não pode se confundir com o amadorismo do tom eleitoral. A substituição de meios de comunicação não pode deixar o didatismo presente nas propagandas televisivas e, para tanto, as mensagens precisam ser claras para não dificultar a governabilidade. Ao buscar diminuir o papel de intermediário do quarto poder no diálogo com a população, ressalta-se a importância de observar um uso menos emocional das redes. Nesse sentido, o canal direto precisa ser ainda mais profissional e cauteloso, tendo em vista o perfil instantâneo da comunicação on-line.

Andressa Canela

Escrito por Andressa Canela

Andressa Mont’Alvão Canela é consultora de Relações Governamentais na BMJ. É bacharel em Relações Internacionais e tem especializações em Direito Parlamentar e Processo Legislativo, Compliance e Negociação Estratégica e Gestão de Conflitos.

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