Por Victor Brandão e Wesley Costa*
Passado o período eleitoral de 2022, é hora de começar a examinar o próximo pleito de 2026. A despeito da exagerada precipitação, as peças do tabuleiro político já começam a se organizar.
Apesar da expressiva votação e a capacidade de transferir votos, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) não digeriu a derrota. Ao não reconhecer Lula (PT) como eleito, pode ganhar ainda mais rejeição da parcela do eleitorado que não é bolsonarista. Para além disso, Bolsonaro não terá um mandato, o que poderia lhe assegurar posicionamentos mais robustos na agenda do país.
Deste modo, no campo da correlação de forças, Romeu Zema (NOVO) saiu bastante fortalecido nas eleições, não somente em Minas Gerais. O governador do segundo maior estado do país ganhou projeção nacional ao fazer severa oposição ao PT. Esta fórmula foi responsável por boa parte de seus votos em 2018 e agora em 2022. Pesa contra o mandatário a limitada capacidade de transferir votos, o que é possível conferir na diminuição da bancada do NOVO em Minas Gerais e da bancada mineira em Brasília.
Em geral, seu segundo mandato deve ser mais confortável, sobretudo na aprovação de projetos de interesse do Executivo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Destaca-se que Zema construiu sua reeleição com o apoio de onze partidos, o que possibilitará uma base legislativa maior do que a de seu primeiro mandato.
Uma das principais metas do executivo para o primeiro ano deste mandato será o Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que não foi apreciado pela ALMG em 2022. A aprovação na Casa Legislativa deverá encontrar resistência em alguns pontos que atingem diretamente o funcionalismo público e, em contrapartida, o estado aposta em maiores investimentos em infraestrutura, recomposição salarial, educação, saúde, meio ambiente, entre outros.
Outro fator econômico que pode trazer mais conforto fiscal para o governador são as privatizações. O Executivo defende que este movimento irá desafogar o estado e trará benefícios para a população em geral. Após transferir a administração do Mineirinho, do Aeroporto da Pampulha e do Terminal Rodoviário, a ideia é privatizar a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA). O governador já apresentou na Assembleia projetos para privatização das duas estatais, mas deve encontrar forte resistência.
Se conseguir lograr êxito nas iniciativas acima, Zema espera ter maior fôlego financeiro, se contrapondo ao cenário federal. Considera-se que, a nível federal, haverá retração de investimento, mas é esperada uma expansão a nível estadual. Dessa forma, a polarização entre Lula e Zema pode se tornar inevitável. Resta saber se o político mineiro vai conseguir se tornar referência imediata no embate com Lula ou terá que ainda se consolidar no campo da direita.
*Victor Brandão é Coordenador da BMJ Belo Horizonte.
*Wesley Costa é Consultor de Relações Governamentais da BMJ.