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Os motivos do bom humor de Moro

Escrito por Wagner Parente | 02/10/2019 17:38:19

Quem viu Sergio Moro falando para uma palestra de executivos e empresários ontem no Council of the Americas ficou impressionado com o estilo um pouco menos formal e até bem-humorado com que se dirigiu ao público.

Em sua apresentação Moro surfou nos recentes dados que mostram a queda no número de homicídios, reafirmou o compromisso com o combate à corrupção, relembrou as ações de sua pasta  contra o crime organizado, inclusive, fez  piada com o PCC; segundo o ministro alguns tratariam  a facção criminosa como o vilão do Harry Potter, o qual ninguém se atreve a dizer o nome (referência ao Lord Voldemort). Moro ainda pediu que a audiência ‘aposte no Brasil e no Governo Bolsonaro’.

A atuação do Moro desta quinta-feira contrasta com a do dia anterior, quando saiu de uma entrevista coletiva que ele mesmo convocou sobre as ações de combate a pedofilia do Ministério da Justiça, onde permaneceu apenas 3 minutos depois de começar, sem responder perguntas. Vale lembrar que na quarta-feira, Bolsonaro afirmou à Folha que o comando da Polícia Federal precisa dar uma “arejada” e chamou de “babaquice” a reação de integrantes da corporação às declarações dele sobre trocas em superintendências e na diretoria-geral.

As críticas de Bolsonaro à PF, diretamente subordinada a Moro, foram só mais um capítulo do que vem sofrendo o ministro nas últimas semanas. Mas então qual poderia ser o motivo daquele bom humor de ontem de manhã?

Uma das possibilidades é o resultado da última pesquisa Datafolha, que tinha acabado de ser divulgada. Moro é conhecido por 94% dos entrevistados e 54% avaliam sua gestão à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública como ótima ou boa. Outros 24% a consideram regular, e 20%, ruim ou péssima. O desempenho de Moro é bem melhor do que o do próprio Bolsonaro, que tem 29% de ótimo ou bom, 30% os que o consideram regular e 38% os que avaliam como ruim ou péssimo.

Além disso, o movimento de Bolsonaro para desprestigiar Moro acabou dando ainda mais força ao ministro, que passou a ser cortejado por partidos da centro-direita. De pré-indicado ao Supremo Tribunal Federal, Moro se tornou o presidenciável mais disputado em Brasília trazendo um tempero que deve ser muito bem recebido pelo eleitor conservador e antissistema: histórico forte no combate à corrupção, perfil alinhado a direita, mas sem arroubos extremistas, e o mais importante, nenhuma filiação partidária no currículo.

A boa aprovação de Moro resistiu aos desmandos do presidente, às derrotas no congresso e a divulgação de mensagens com procuradores, no que ficou conhecido como Vaza-Jato. Tal resiliência é um ativo que o presidente não tem, visto o quanto perdeu de apoio do início de janeiro para cá. Resta saber como o magistrado Moro vai fazer a nova jogada no tabuleiro da política.