Nesta quarta-feira (9), a deputada federal Alê Silva perdeu sua cadeira na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) a pedido dos líderes do PSL. A deputada atribuiu esse movimento ao seu posicionamento firme na defesa dos interesses do Palácio do Planalto, que muitas vezes conflitavam com os encaminhamentos das lideranças do PSL. Alê Silva anunciou sua intenção de deixar o partido e conversou com o nosso consultor de Análise Política, Lucas Fernandes, sobre esse episódio, além dos casos de candidaturas-laranja do PSL e sua relação com o governador Romeu Zema (Novo/MG).
Entrevista concedida na quarta-feira, 9 de outubro de 2019.
LUCAS FERNANDES: A senhora avalia que o Palácio do Planalto está com seus interesses bem amparados na Comissão de Finanças e Tributação (CFT)? Com a sua saída da comissão, o governo pode ficar prejudicado?
ALÊ SILVA: Não está amparado, Lucas. Isso era uma coisa que eu já vinha conversando com o Major Vitor Hugo (PSL/GO – líder do governo na Câmara dos Deputados) há bastante tempo, falando com ele que a gente precisava reforçar as nossas bases juntamente à CFT porque qualquer projeto ali que fosse provado inadequadamente, com prejuízos de milhões para o Brasil, para as nossas contas e eu estava ficando praticamente sozinha lá defendendo as pautas do governo. Eu tinha outros deputados que estavam ali me ajudando, como o Paulo Ganime (NOVO/RJ) e o Felipe Rigoni (PSB/ES), mas eles não são base, né? Eles são independentes. Mas, por sorte, muitas das vezes os posicionamentos do Governo estavam alinhados com o posicionamento deles. Então nós estávamos fazendo um trabalho bem bacana ali nós três.
LF: A senhora mencionou a parceria com deputados do NOVO. Em sua opinião, esse partido está fazendo um trabalho mais positivo para os interesses do Palácio do Planalto, do ponto de vista orçamentário, do que o PSL?
AS: Sem sombra de dúvidas. O NOVO é um partido pequeno, mas que trabalha muito, são pessoas altamente esclarecidas. Eles entendem muito de contas públicas. Mas eu digo assim... Aí existe uma coincidência que as pautas do governo também têm sido defendidas pelo partido NOVO. Uma feliz coincidência. Principalmente as pautas econômicas.
LF: A senhora faz parte dos novos parlamentares eleitos com a bandeira da nova política. A senhora acredita que o PSL continua fiel à essa essência da nova política ou houve um desvirtuamento durante a legislatura?
AS: Então, dentro do PSL tem muitos deputados nessa linha da nova política, da boa política, né? Pessoas que têm um ideal muito acima de interesses políticos e financeiros. Mas, infelizmente, nós ainda temos uma boa leva que, sim, foram oportunistas e montaram na onda Bolsonaro. Estão se sentindo na crista da onda. Então assim, igual eu falei, não é o partido todo que está corrompido, tem muita gente boa lá dentro. Infelizmente quem está corrompida é a alta cúpula.
LF: Também nesta quarta-feira (9) o presidente do PSL, Luciano Bivar, anunciou que o presidente Jair Bolsonaro deixaria o partido. Como a senhora avalia esse movimento? A senhora vê chances de uma grande debandada?
AS: Com relação ao presidente deixar a sigla PSL eu comento que existem alguns entraves políticos, né? Não é fácil o Presidente da República de repente se declarar sem partido ou largar um partido e ir para um outro. Os entraves políticos podem atrasar esse movimento. Com relação aos deputados, nós temos os entraves jurídicos porque legalmente o nosso cargo pertence ao partido. Então, inicialmente, nós teremos duas opções: ingressar em juízo requerendo a desfiliação provando que há uma incompatibilidade muito grande entre a gente e o partido como, por exemplo, os caciques do partido não têm transparência, não têm ética, não têm moral... Ou então os deputados se filiarem a um novo partido e após isso, sim, ingressar na Justiça e enfrentar o processo, né? Então nós temos esse problema jurídico, esse risco de perda de cargo. Mas, se abrisse uma janela de hoje para amanhã, eu te garanto que, pelo menos, 35 deputados debandariam.
LF: Eu entendo que esse assunto ainda está muito recente, mas gostaria de saber se a senhora já começou as tratativas com outra sigla, tem uma previsão de para qual partido a senhora deve migrar?
AS: Eu já recebi um convite, um convite até formal de um partido. Estamos acertando os detalhes, eu só estou aguardando realmente a gente esclarecer essas questões jurídicas. É um partido menor, mas é um partido que está vindo de alma limpa. É um partido cujo líder maior é muito parecido com o meu, né? Nós já conversamos bastante e que a gente deve trabalhar. É um partido como o seu líder disse: Nós não somos um partido, nós somos um movimento. Então acredito que eu vou ter mais chances de ser feliz lá do que permanecendo no PSL.
LF: E a senhora pretende continuar defendendo os planos do governo e do Palácio do Planalto nessa nova sigla?
AS: Com certeza. Isso o novo partido aceita muito bem. Porque quando eu digo que vou defender as pautas do governo, evidentemente que são as pautas positivas. E que bom que as pautas do governo têm convergido aos meus ideais. A gente não tem colidido em nenhum momento. Então para mim fica muito fácil defender o governo.
LF: A crise PSL pode atrapalhar a agenda de reformas em tramitação no Congresso?
AS: Não prejudica. A Previdência já até foi votada lá no Senado, né? Não vai sofrer mais nenhum tipo de influência. E a Reforma Tributária que já existe um consenso na Casa de que ela é necessária, apesar de que não vai solucionar o problema do povo, né? Das pessoas mais simples que sofrem de pagar a alta carga tributária. Nenhum desses dois textos que estão bem adiantados aqui na Casa vão resolver esse problema. Ela pode ajudar na simplificação, na arrecadação e talvez reduzir a guerra fiscal que existe entre os estados. Mas, infelizmente, nenhuma das duas vias vai reduzir a carga tributária. Então a gente vai continuar pagando aí uma taxa mais ou menos de 34% de cada compra que nós fizermos.
LF: Deputada, a senhora tem algum comentário sobre os novos desdobramentos do caso de candidaturas-laranja envolvendo o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio?
AS: A Polícia Federal e o Ministério Público Eleitoral mais uma vez provaram que eles trabalham com independência, com solidez. Eu já imaginava que o desfecho seria esse, o indiciamento e a denúncia. Eu tive acesso às primeiras provas, então logo imaginei que eles não iriam ignorá-las. Com relação à denúncia, vai depender do juiz, se o juiz vai ter o mesmo entendimento da Polícia Federal e do Ministério Público, e aí aguardar, né? Com relação ao meu assunto e ele, que está relacionado não só à ameaça mas à calúnia e difamação, ele produziu um material fake na época, ele mesmo, partiu do celular dele, áudios manipulados, brindes picotados, isso tudo está correndo na Justiça, eu entrei com uma representação, e, em breve, ele deve ser denunciado também por esses crimes, ameaça e difamação.
LF: E o Ministro continua a integrar o governo Bolsonaro. A que a senhora atribui isso? Por que o Presidente resolveu manter o Ministro?
AS: Eu entendo que seja uma dívida de gratidão. O Ministro, no dia da facada, carregou Bolsonaro nos braços. Quando se está em um momento como esse, qualquer segundo pode fazer toda a diferença no salvamento, né? Eu acredito que como o Bolsonaro é militar, ele tenha essa dívida de gratidão. E outra coisa também, eu já ouvi algumas outras pessoas próximas ao Bolsonaro dizerem que o Presidente tem receio de devolver o Marcelo Álvaro para a Câmara e ele ser cassado. Então ele ficaria muito triste por causa dessa dívida de gratidão. O cara salvou a minha vida e agora eu acabo com a vida dele? E você fala assim: Ele continua fazendo parte do governo Bolsonaro. Não, não vejo muito isso porque eu o vejo muito alheio. Ele não está tendo aquele glamour, ele está mais é pagando com uma pena..
LF: A senhora comentou sobre sua parceria com alguns deputados do Novo. Esse relacionamento positivo com o partido também se reflete a nível estadual? Como a senhora avalia o governo Romeu Zema?
AS: Está ótimo. Eu gosto muito do trabalho do Zema, dele, da equipe econômica dele, o Secretário de Planejamento e o Secretário de Governo. Recentemente, eu estive reunida com eles. Temos também o Secretário de Infraestrutura, o Miguel Marco Aurélio. Eu tenho visto que eles estão trabalhando e estão se esforçando demais. Minas Gerais está com 80% da sua arrecadação comprometida. De pagamento, já está enquadrada na lei de responsabilidade fiscal. Em razão disso, eles não têm acesso a nenhum programa aqui do governo federal. E eu vejo que o governo estadual está se esforçando muito para criar o pacote de recuperação fiscal, que deve ser aprovado na Assembleia para que Minas possa respirar. Minas está quebrada, está falida, eu vejo que eles estão fazendo de tudo com muita transparência.
LF: E para as eleições municipais, deputada? A senhora pretende lançar candidatura para o ano que vem?
AS: Eu não. Eu não vou ser candidata a nada. Não pretendo, o Executivo não me chama a atenção. Eu gosto mesmo é do Legislativo. Não pretendo me candidatar a nenhum cargo ano que vem. Por enquanto, eu só declaro meu apoio ao atual prefeito de Coronel Fabriciano, a cidade onde eu moro, Marcos Vinícius. Declaro meu voto a ele, mas não sei como ficariam essas questões de apoio, né? Não entendo muito bem como seria feito. Nos outros municípios ainda não tenho uma ideia clara.