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A política comercial de Joe Biden

Escrito por Geovana Pessoa | 12/03/2021 20:11:49

A chegada de Joe Biden à Casa Branca fomentou expectativas sobre a gestão de diversos temas no país, especialmente no que concerne à agenda de política comercial do novo governo. As relações com a China, a atuação dos EUA juntamente à Organização Mundial do Comércio (OMC), a retomada da agenda de sustentabilidade e as negociações de acordos comerciais são tópicos centrais que ganharam fôlego com a eleição do democrata.

Para avaliar as perspectivas da política comercial de Biden, pode-se retomar as pautas que ele defendeu ao longo de sua trajetória política: desde sua passagem pelo Senado, Biden se mostrou apoiador da liberalização do comércio, votando em favor do North American Free Trade Agreement - NAFTA (atual USMCA) e da normalização das relações comerciais com a China, o que foi um endosso ao país asiático para a adesão à OMC. Por outro lado, Biden também votou contra a ratificação de acordos comerciais que julgava em dissonância com normas trabalhistas e melhores práticas ambientais, como o acordo com o Peru.


O apoio a organismos multilaterais e a ampliação da agenda sustentável são diretrizes que orientarão a política comercial estado-unidense nos próximos anos. Ainda assim, o governo de Biden tem frisado que a prioridade é estabelecer ações efetivas no combate à pandemia do coronavírus e investir no fortalecimento da economia do país com a agenda Build Back Better, política de criação de empregos e investimentos em infraestrutura e inovação, dentre outros pilares.


Por essa razão, os requisitos do plano Buy American, que dispõe que as licitações públicas do país devem privilegiar bens e serviços produzidos nos Estados Unidos, podem ser preservados. Caso o plano de Biden seja realizado, apesar do descontentamento de importantes parceiros comerciais, os compromissos dos Estados Unidos no Acordo de Compras Públicas da OMC deverão ser revistos.


No espectro internacional, desde que assumiu a presidência, Biden rechaçou a conduta de Donald Trump em diversos temas, reingressando no Acordo de Paris em sua primeira semana no cargo e concedendo rapidamente o apoio para que Ngozi Okonjo-Iweala assumisse a Diretoria-Geral da OMC. Não obstante, sua política em relação à China se mostra mais cautelosa: as restrições ao comércio não foram retiradas e o novo governo espera que a China execute ações previstas no Phase One Agreement, que propõe reformas no comércio entre os dois países em prol de amenizar efeitos da guerra comercial. O novo presidente também não revogou as sobretaxas aplicadas ao aço e alumínio importados até o momento.


Em relação a políticas sustentáveis, a administração Biden pode considerar a adesão a programas semelhantes ao Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), que objetiva diminuir as emissões de carbono até 2050. A proteção da Amazônia também tem sido discutida, e os ministros brasileiros das Relações Exteriores e do Meio Ambiente, Ernesto Araújo e Ricardo Salles, se reuniram em fevereiro com o enviado especial para as Mudanças Climáticas do governo dos EUA, John Kerry, para acordar conversas periódicas entre técnicos da área ambiental de ambos os governos com vistas a promover ações em favor da preservação do meio ambiente.


O governo democrata apresenta novas perspectivas na condução da política comercial dos EUA. Há expectativas de que a agenda de sustentabilidade do país estipule novos critérios de regulamentação ambiental para negociações comerciais e de que a construção de diálogos multilaterais seja ampliada.


A relação com a China poderá ser reavaliada, mas a administração Biden continuará condenando e aplicando sanções a práticas chinesas vistas como desleais. Percebe-se, por fim, que a agenda comercial priorizará a defesa de interesses dos Estados Unidos, aplicando investimentos e políticas em favor da recuperação econômica do país no cenário pós-pandemia.

 

(As análises e opiniões aqui contidas dizem respeito aos autores e não representam o posicionamento institucional das organizações).