A primavera anuncia a chegada de outubro e, exatamente no dia 2, marca uma importante efemeridade no calendário eleitoral: começa a contar o prazo de um ano para ocorrer o primeiro turno das eleições no primeiro domingo de outubro de 2022.
Em Minas Gerais, a tônica da disputa ao governo estadual deve se dar entre Romeu Zema (Novo) e algum representante do grupo liderado pelo senador Rodrigo Pacheco (DEM). Naturalmente, assim como as estações, mudanças inesperadas podem acontecer e como diria Magalhães Pinto, ex-governador mineiro, "a política é como nuvem, você olha está de um jeito, olha de novo e já mudou".
O estado mineiro passou, recentemente, por duas tragédias envolvendo a mineração. Os modelos de participação do estado aplicados em Mariana e Brumadinho posicionam Pacheco e Zema em lados opostos. Se no modelo de resolução de Brumadinho o executivo estadual teve muito protagonismo, no desenho de Mariana os prefeitos querem ter mais voz. E Pacheco capturou este anseio e está apoiando os mandatários municipais nas discussões em torno do novo modelo de reparação a ser aplicado em Mariana.
Recentemente, Pacheco articulou a presença dos prefeitos em reunião do Observatório Nacional sobre Questões Ambientais, Econômicas e Sociais de Alta Complexidade, Grande Impacto e Repercussão, vinculado ao Conselho Nacional de Justiça. O colegiado lidera a repactuação do acordo firmado entre órgãos públicos e as empresas envolvidas após o acidente na barragem de Fundão, em 2015.
O fato de Pacheco ter recebido os prefeitos e ter viabilizado a presença deles na reunião do CNJ indica que ele pode apoiar os gestores municipais em contraponto ao desejo do executivo estadual que, segundo os prefeitos, repassaria valores injustos. O afago do presidente do Senado Federal pode ser considerado um gesto em relação aos prefeitos do Vale do Aço, que esperam receber R$ 50 milhões por município, independentemente do tamanho da população, contrariando o racional executado em Brumadinho, onde as maiores cidades receberam mais recursos.
Embora Rodrigo Pacheco tenha se reunido recentemente com Zema e Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo, para tratar do mesmo assunto, a agenda com os governadores só foi costurada graças à intervenção do Procurador-Geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares, uma vez que o governador e o senador estão em campos políticos opostos e Jarbas é próximo de ambos. O distanciamento de Zema e Pacheco ocorre, também, por razões políticas, já que Pacheco é aliado de primeira hora do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), um dos principais opositores ao governador.
Outro fator dessa relação abalada é relativamente novo e se deve à possibilidade de fusão do PSL com o partido atual de Pacheco, o DEM, que criaria a maior legenda do país e poderia bancar uma possível candidatura de Pacheco à presidência da República. Esta articulação deixaria Zema com poucas opções no campo de formação de alianças, já que parte considerável do espectro político da direita iria caminhar ao lado desta nova legenda. Se este cenário se confirmar, Zema pode sair do atual partido e buscar um mais posicionado ao Centro, que lhe dê musculatura no pleito.